Troca de Saberes
Resumo
A Associação Indigenista de Maringá (ASSINDI) acolhe os indígenas Kaingang oriundos da Terra Indígena Ivaí, para promover uma estadia humanizada no município, enquanto os mesmos produzem e comercializam o artesanato indígena, caracterizado como a principal fonte de renda dos Kaingang dessa região. Nesse contexto, a profissional de Psicologia que compõe a equipe técnica da Assindi, desenvolve rodas de conversa com temáticas transversais, oficinas de troca de saberes com convidados externos à Instituição e expõe materiais audiovisuais produzidos por outras etnias indígenas, com objetivo de fortalecer os saberes indígenas enquanto conhecimento significativo para a resolução de problemas de saúde comunitária.
Estudo da realidade
Este projeto surge visto que a ciência moderna se constitui exterminando outros modos de saber a partir do eurocentrismo (ideia de que a Europa é o centro da cultura mundial), essa visão emerge tendo como referência a Europa e uma perspectiva colonial no Brasil, intensificada quando os intelectuais decidem que os referenciais teóricos e técnicos devem seguir os mesmos padrões do mundo “civilizado” branco. Assim, o projeto de colonização dos povos indígenas, desqualifica os saberes originários e estabelece um único conhecimento "científico" construído a partir dos ideais eurocêntricos (Santos; Silva, 2018). Do mesmo modo nasce a psicologia, construída em uma compreensão dita científica, marcados pela branquitude e pela construção de uma perspectiva de verdade que desqualifica os saberes negros, indígenas, favelados, de terreiro, periféricos, dentre outros. Nesse sentido, temos atualmente um cenário em que os indígenas utilizam ferramentas da colonização para sobreviver no Brasil contemporâneo, como por exemplo, de modo geral preferem recorrer a medicina moderna do que a medicina tradicional anciã.
Justificativa
Recentemente a Psicologia tem (re)pensado seu lugar no espaço social e a partir da sua inserção nas comunidades indígenas e dos acadêmicos indígenas na Psicologia, propõe um deslocamentos dos conhecimentos produzidos até então por ela, de modo que fiquem suspensos (em certa medida) para dialogar com os saberes tradicionais dos povos indígenas. Assim, vislumbramos ouvir os sentidos que os próprios indígenas dão aos seus conceitos de psiquê, espírito, conhecimento, saúde e doença, produzindo um espaço para que a percepção dos sujeitos apareça e possa criar um sentido coletivo, valorizando e estimulando o saber indígena como uma estratégia de prevenção e promoção da saúde coletiva.
Objetivo geral
Fortalecer os saberes indígenas como um conhecimento significativo para a resolução de problemas.
Ações desenvolvidas
Fortalecer o senso comunitário e coletivo entre os indígenas.
- Expor conteúdo audiovisual de outros povos indígenas retratando modos coletivos de enfrentar o sofrimento e a violação de direitos humanos.
- Abrir um espaço para que haja uma roda de conversa sobre como as pessoas da comunidade viviam em outros tempos, quais eram seus costumes e como enfrentavam as dificuldades.
- Valorizar a conversa na língua materna que se estabelece entre os participantes do grupo, propondo para um interlocutor que traduza as falas em português para o Kaingang no grupo.
Promover o diálogo entre os saberes indígenas e não-indígenas.
- Articular encontros entre profissionais das áreas da medicina, assistência social e de outras culturas para diálogos sobre: terapia comunitária, ginecologia natural, maracatu, racismo, violência contra as mulheres, suicídio, trabalho infantil, substâncias psicoativas, medicamentosas e álcool.
- Acolher a compreensão indígena das temáticas trabalhadas, estimulando que o grupo possa expor o significado cultural que temas como: suicídio, trabalho infantil, gênero e compreensão corporal tem para a cultura Kaingang.
- Produzir coletivamente recorte e colagem, desenhos no papel kraft, rimas, autorretrato, absorventes de pano e expressões artísticas que registrem a concepção do grupo sobre os temas.
Impactos sociais
Educação
Impacto Externo
Através de roda de conversa as mulheres indígenas acolhidas na Associação Indigenista de Maringá, lembraram de memórias que estavam esquecidas sobre a cultura Kaingang, as plantas, remédios caseiros, parteiras e a função da mulher indígena dentro da comunidade.
Saúde
Impacto Externo
Através de relato dos indígenas Kaingang que foram atendidos na Assindi com sessões de acupuntura, relataram sobre uma significativa diminuição de dores das pernas, gerando uma melhora na estima e bem-estar.
Impacto Interno
Por meio de conversas e avalições entre os nossos colaboradores que realizaram a preposição, execução e monitoramento das atividades, constatou-se aumento da estima pessoal e profissional por estarem participando e contribuindo com a saúde e valorização da população indígena de nossa região e assim contribuindo para o bem-estar e saúde desta comunidade local.